De tempos a tempos, especialmente na última década, vem à baila a educação no Colégio Militar (CM) e a necessidade de acabar com a instituição (e a sua similar – PE), quase nunca frontalmente assumida. Ver agora o BE directamente envolvido nesta polémica é que me deixa meio confuso. Ou talvez não. Afinal, já é um partido do poder.
Para quem vive fora de Lisboa e não conhece o local onde se situa o CM – mas é mesmo só por esta razão – lembro que o colégio se encontra instalado numa área nobre da cidade, terreno de muitos hectares, ali mesmo ao lado do CCColombo e do Estádio da Luz, com a 2ª Circular a tocar um dos lados. Imagino, sem conseguir saber ao certo, em contado, o valor comercial do terreno e nem isso consigo imaginar quando se fala nos valores que podem resultar da especulação imobiliária a edificar no mesmo. Isto, claro, se o CM sair dali, o que espero nao venha a acontecer.
Ah, mas estava a falar da polémica da educação que se ministra e vive no Colégio Militar, agora a eventual caminho dos tribunais criminais, junto com alguns antigos alunos.
Concordo que, entre outras coisas, uma lambada que perfura o tímpano é coisa grave que necessita de correcção e, para aquele ambiente, especialmente de prevenção. Não sei se propriamente tão grave que leve o jovem daquela instituição, autor de tamanho crime, a sentar-se no banco dos réus e a ficar com um registo criminal que, com o tempo, se virá a ler difusamente mas sempre a ensombrar o seu futuro.
Ao que parece, uns pontapés no rabo de um miúdo, dados por outro miúdo, também merecerá tratamento criminal, clamam alguns.
Como sabemos, vivemos num país onde qualquer comportamento socialmente reprovável e reprovado leva o seu autor a responder pelo crime e a ser severamente punido. Não escapa, não tem escapado, nenhum. Somos um país exemplar, quase sem crimes!
Nas demais escolas públicas e privadas, mesmo sem estarem situadas em terrenos valiosos para fins imobiliários, não se vislumbram processos criminais a nascer, claro. Simplesmente porque não há, não tem havido, nada que se possa comparar ao que se passa no CM:
pontapés no rabo e murraças na face; lambadas de ferver; facas a cortar colegas ou, tão-só, a coagi-los a qualquer coisa; furtos e roubos de dinheiro e objectos, a colegas; comércio e consumo de drogas; professores a receber insultos e agressões físicas; instalações vandalizadas; etc; etc; e etc. Nada disso acontece. Por isso, os papás, aí, não se exaltam. Estou a ser propositadamente irónico, claro.
Também não acontece, nessas escolas públicas e privadas, terem aulas de manhã à noite, sem “furos”, e que vão das disciplinas curriculares normais, à equitação, à ginástica, à esgrima, a diversas modalidades de desporto, à disciplinar militar, etc, instalações condignas e bem mantidas, laboratórios e bibliotecas bem equipados, liberdade com responsabilidade. Claro que também existe o regime interno, com o elevado risco que é jovens terem que se auto-governar durante 24 horas sobre 24 horas, aprendendo a crescer juntos.
Fico estupefacto com pais de alunos do CM que se queixam, ou denunciam, criminalmente, porque os filhos, que eles decidiram meter na instituição, levaram uns pontapés, uma “galheta”, de um jovem adolescente, mesmo que tenha mais 2, 3 ou 5 anos em cima. E pergunto se o fariam no caso do mesmo filho sofrer o mesmo tratamento, ou pior, se estivessem numa outra escola.
Pergunto-me se inscreveram os filhos no CM conscientes da vida que forçosamente os aguardava, e era forçosamente previsível, ou se foram tão inconscientes que nem imaginaram isso ou, pior, apenas se limitaram a ir depositá-los em estabelecimento onde ficariam a dar-lhes (aos pais) liberdade 24 horas por dia, durante toda a semana útil.
Parece-me que - para além de realmente serem necessárias medidas para melhorar, seja lá o que for e o CM não foge à regra, é susceptível de ser melhorado, e a vida da instituição militar tem tradição mas sempre vai ter que se ir adaptando aos tempos, desde que não perca a sua identidade - parece-me, dizia, que a direcção do CM terá que passar a ser mais exigente nas provas de selecção, não só dos alunos mas, especialmente, dos pais dos potenciais alunos.
O meu filho foi aluno do CM. Ele sente muito orgulho disso e eu por ele o ter sido.