sábado, 1 de dezembro de 2007

Dez réis de esperança

Se não fosse esta certeza

que nem sei de onde me vem,

não comia, nem bebia,

nem falava com ninguém.

Acocorava-me a um canto,


no mais escuro que houvesse,

punha os joelhos à boca

e viesse o que viesse.

Não fossem os olhos grandes

do ingénuo adolescente,

a chuva das penas brancas

a cair impertinente,

aquele incógnito rosto, pintado

em tons de aguarela,

que sonha no frio encosto

da vidraça da janela,

não fosse a imensa piedade

dos homens que não cresceram,

que ouviram, viram, ouviram,

viram, e não perceberam,

essas máscaras selectas,

antologia do espanto,

flores sem caule, flutuando

no pranto do desencanto,

se não fosse a fome e a sede

dessa humanidade exangue,

roía as unhas e os dedos

até os fazer em sangue.



- - - - - - - - - - - - - - - - António Gedeão

5 comentários:

Anónimo disse...

Cher Agridoce,
La vie nous impose des épreuves auxquelles nous devons nous confronter et notre monde nous semble sans pitié envers nous. Néanmoins nous devons trouver la force de faire face.
Maïca

Gi disse...

que ela nunca nos falte ...

ele sabia

dizia por palavras o que muitos de nós,tantas vezes (por vezes , vezes demais, sentimos)

Um beijinho para ti

Anónimo disse...

Não sei que te diga...

é forte e cruel esse sentimento, e pouco podemos fazer para o desalojar...

talvez esperar que o tempo, que dizem tudo faz passar, embora nunca tenha dado por isso e não acredite no que tal coisa dizem, talvez esperar que o tempo o possa abrandar,

talvez daqui a dez mil anos.

xistosa, josé torres disse...

"se não fosse a fome e a sede

dessa humanidade exangue,

roía as unhas e os dedos

até os fazer em sangue."

Não sei se leste o Expresso desta semana.
Os jornais, são como eu ... impulsivos e dilacerantes ... mas até senti um aperto mitral, (não no "capacete" dos bispos e papas - eu que levo tudo para a mordacidade, mas isto não é para tal!)

MÉDICOS E PROFESSORES, RECORREM AO BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME!

Senti mesmo. Algo me apertou.
Em todos os extractos sociais há exageros, falta de orientação e depois o dinheiro ... é só pedir, que até o levam a casa!

Não é inventado por mim, pág. 18 - SOCIEDADE, do dia 01/12/2007. Expresso.

Eu sou contra este mês de Dezembro, devia ser banido do calendário.
É só consumismo!
Pedinchice!
Fui comprar o bacalhau, onde o compro todos os anos, só para o Natal, numa mercearia, que passe a publicidade, se situa no redondo da R. do Bonjardim com a R. Fernandes Tomás.
Digam lá o que disserem, bacalhau, em lascas,com aquela "geleia" entre elas só ali. Jumbo da Noruega!
24 euros o quilo. Fez-me a 19, porque sou cliente "anual" e levo mais uns frutos secos.
Quinta feira de tarde, com a minha ajudanta de há trintas, estava a escolher o dito cujo e uma velhota, pegou num bacalhau, que pouco mais tinha que um palmo.
Perguntou quanto custava.
Olhei surpreendido, pois queria passar-me à frente.
O merceeiro lá lhe disse o preço e ela pediu para lho cortar ao meio.
Era o bacalhau para o Natal, dela e do marido.
Até saí da mercearia, com os olhos marejados em lágrimas.

Acalmei-me, entrei e perguntei-lhe se já tinha comprado tudo e para esperar, que lhe queria dar uma coisa para o marido.
Depois de cortado o bacalhau como gosto e pedi, dei-lhe as 3 melhores postas.
Cuspiu-me a barba toda com os beijos ...
Não me senti melhor, nem pior.
Só que há momentos em que deviamos parar e mostrarem-nos o que sucede à nossa volta ... já não conseguimos ver bem ... fomos vacinados ao longo dos tempos.

Nunca mais vou esquecer o bacalhau dos "pobres".
Outros nem com um palmo o conseguem almejar.
Não ligo a religiões, nem posso ligar, com tanta desigualdade.
Nem acredito em deuses que "deixam" ou se desleixam e seres vivos passam fome ...
Não escrevo mais, ás vezes faz bem chorar ... mas ultimamente tem-me acontecido com muita frequência, depois deste episódio.
Cumprimentos!

Ana Fernandes disse...

Ola!

De volta? Quem bom saber.

Jinhos.