sábado, 21 de junho de 2008

Crónica do dia

Conto de ficção


Hoje, resolvi ir dar umas pedaladas com a minha "bike", "vélo", "duas rodinhas", bicicleta.

Coitada, de há muito que se queixava por não sair da arrumação, toda dobrada, esquecida como se já não tivesse utilidade.

O "latinhas", "quatro rodas", apenas viu a luz do dia no espaço de tempo que foi ir às compras e carregar com elas para casa, já a partir dele recolhido na garagem, nem pinga de luz solar. Pra castigo!

Consulta feita aos mentireologistas da net, o dia prometia marcar o início do Verão, embora a experiência às compras não tivesse sido assim tão prometedora.

Pelo sim, pelo não, pedalada na "piquena".

Máquina fotográfica e apoio e tele-objectiva no estojo, foi calcorrear por esta Bruxelas quase plana (experimentem a andar de bicicleta por cá, que logo vêem que não é bem assim) rumo aos lados do Parque de Woluwe, à procura de algum motivo que me tivesse escapado na composição do album fotográfico digital, para um dia recordar.

Quem conhece Bruxelas sabe que aqui não existem (isto é um bocado exagero, claro, existem dois) cruzamentos com angulos de 90º, nem estradas paralelas.

Os cruzamentos, entroncamentos e rotundas desembocam em ruas que seguem na oblíqua, angulos agudos ou obtusos, consoante a posição que os enfrentamos.

São de um desvio quase imperceptível mas, ao fim de uns quilómetros, quando pensamos que estamos a seguir uma direcção, ela já lá não está.

Vai daí, três horas e tal depois, foto para aqui, pedalada para acolá, observação para o outro lado, dou por mim perdido, no meio de Bruxelas, algures num sítio que me indiciava já estar fora do perímetro da cidade.

Sem um ponto de referência, então, estava completamente perdido.

O S. Pedro, que até aí apenas me tinha dado a entender que me seguia, por me encobrir a luz solar de vez em quando, topou-me totalmente perdido e... zumba, vai de botar toda a cerveja que tinha bebido antes e depois do jogo Portugal-Alemanha que estava retida nos fundilhos, de tão atravessado resultado ter sido.

Em segundos, já parecia um pinto.

Mas Deus - que não gosta de maldades - atirou-me uma Deusa aos pés, qual Sereia encantada e a encantar, verdadeiro kafeko na casa dos vintes, perfeita nos contornos, olhos europeus azuis de norte, pele tostada de sangue latino, cabelos a atirar para o loiro, que veio à porta da vivenda onde eu me abrigava um pouco.

Dirigiu-me uma saudação de "boa tarde" reluzente e disse-me para entrar e abrigar-me na sala, enquanto estivesse a chover.

E choveu durante quase uma hora!

Ah, e que podia meter a bicicleta lá dentro! (Seria sinal encriptado?)

Achei que, afinal, em Bruxelas havia coisas ... quero dizer, angulos rectos e, com jeitinho, até podia vir a haver estradas paralelas.

"Obrigado S. Pedro, por esta chuva que me deste" - mal me lembro já de agradecer com olhar vidrado e virado aos céus, pensamentos enrolados, tão apressado que estava para entrar e por lá ficar.

Com os óculos embaciados, mal via onde punha os pés.

Ainda bem que não avancei mais do que devia.

Sentado numa poltrona, copo de whisky na mão, estava um jovem cavalheiro de quase dois metros, músculos a fugir da roupa, que, apresentações feitas, vim a saber ser seu marido.

Logo de seguida, aparece "uma coisa" a gatinhar e a fazer "buá-buá-buá", para acabar de matar ainda mais os sonhos já mortos de uma tarde de chuva.

Razão de tamanho acolhimento:

- queriam ver a minha Vélo de perto, saber onde a tinha comprado, quanto custou, se gostava dela (aí, acho que dei uma resposta a pensar noutro assunto), e como era de manutenção (ai, como seria de manutenção, Deus meu!).

Com olhar oblíquo, meio obtuso no falar, de pensamentos agudos, já raso nas intenções, lá fui mantendo a conversa até a chuva desaparecer.

Ai como o S. Pedro me castigou com tanto tempo de chuva!

Valeu o ter-me secado um pouco, aquecido a alma com a paisagem e o whisky e ter caído à terra e sido informado onde me encontrava e por onde seguir para vir ter a casa.


Sonhos desfeitos, já perto de casa, cá estavam os "nuestros hermanos", canecas de cerveja na mão, algazarra à espanhola que se ouvia a 5 léguas, festejando uma vitória antecipada.

Ou talvez não.

Amanhã logo se verá que, até agora, os segundos foram os melhores.

Deixo-vos com a foto da curiosidade que ajudou a elevar-me aos céus.

DSC01803


Inté.

4 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Olha valha-te um burro aos pinotes ...
Eu aqui a pensar que ia ver a "deusa" da chuva" e vejo um chasco, com dois pneus em baixo ...
Não tenho sorte nenhuma!

Malditos vinte anos!

Um bom fim de semana!

(eu, regra geral, nunca me perco, oriento-me pelo sol. Dá muito jeito nas grandes cidades!)

Deusa Odoyá disse...

olha meu novo e estimado amigo.
Passei para conhecer seu blog, e logo de cara me deparo com esse canteiro tão iluminado de flores.
adorei muitas felicidades, voltarei sempre.

Te agurado no meu cantinho.
Sua amiga Regina COeli.

Anónimo disse...

Me has hecho reir un monton.
De veras que la pequeña es una Diosa.
No es porque Portugal ha quedado eliminado que no hay que desear que gane España ;-)
Maïca

Anónimo disse...

Ai Maïca, que os Russos estão a jogar tão bem, que nada parecem aqueles que levaram 4-1.
pero Arriba Espanha!

A tua bike uma deusa linda, pelo menos tivestes também sonhos bonitos...desfeitos
risos
Gostei imenso deste post.

beijinho