terça-feira, 11 de novembro de 2008

ANTÍPODAS

Hoje (já ontem se sentiu), a Bélgica acordou em feriado nacional.

Este 11 de Novembro é data de, pelo menos, duas efemérides que me dizem algo, pessoalmente falando, e ambas ligadas ao fim de impérios, onde Portugal também foi actor, embora de formas bem diferentes.

ARMISTÍCIO da G.G.

11 de Novembro de 1918

"Caminhos da memória"
Na I Guera Mundial, o Corpo Expedicionário Português (CEP) arrastou-se por terras das Ardenas e da Flandres, trincheiras cavadas, chuvas, frio e muitos tiros.

Em Richebourgh l’Avoué (Neuve-Chapelle - França), existe um espaço onde repousam os restos mortais de uns quantos daqueles soldados que foram dizimados pelas tropas alemãs, entre eles, os do meu avô paterno.

Cemitério aos portugueses em Richebourgh l'Avoué
Passam-se hoje 90 anos sobre o acordo (Armistício) que permitiu pôr fim aos disparos de um e outro lado, abriu caminho à declaração de paz e oficializou vencedores e vencidos, com os preços a pagar pelos últimos pela aventura de que foi o terem iniciado uma guerra que envolveu as potências de então, destruiu parte da Europa e deixou milhões de mortos no terreno.

A Bélgica, país diminuto encravado entre dois países gigantes na Europa, sofreu notoriamente com esta guerra, tal como com a II. Basta andar pelo país, seja nas cidades ou nos campos, para ver como a cada canto esse sentimento belga se expressa: monumentos, campas avulsas, cemitérios dedicados ...

INDEPENDÊNCIA



11 de Novembro de 1975


Há 33 anos, a bandeira portuguesa deixou definitivamente de flutuar no “mastro da soberania sobre Angola”, substituída por uma outra (de facto, foram três, em locais diferentes do território, mas só uma foi internacionalmente reconhecida) que marcou o nascimento de um novo país e, simultaneamente, a parte final do caminho imperial português.

Neste caso, infelizmente e ao contrário do anterior, não significou início de paz, nem acabou com disparos, bem pelo contrário.

Apeado o colonizador (antes mesmo dessa saída), a guerra civil foi queimando o país durante quase 3 décadas. Todo (ou quase todo) o esforço do país foi dedicado à guerra.

Milhares decidiram-se ou "foram induzidos" a decidirem-se pelo abandono do país. Quantas vidas perdidas, quantos recursos esbanjados. Enfim, foi o parto possível do país, por cordéis puxados mais do exterior que do interior, onde Portugal ficou muito mal na foto.

Actualmente, tudo indica que o país caminha sobre uma paz duradoura, espera-se e deseja-se que definitiva. É tempo de (re)construir. Infraestruturas e estruturas sócio-económicas, mas também de não deixar abrir feridas passadas.

Fiquei indelével e eternamente ligado aquele território. Nele aprendi a andar, a correr, a cair, a falar, a ler e escrever, fiz amizades, dei uns quantos anos da minha vida. Felizmente.

2 comentários:

Ana Fernandes disse...

Agridoce,

A minha geração, infelizmente, pouca inportância dá a esta data. Por um lado por já ter nascido muitos anos depois da independência, por outro (talvez) por influência de comentários maliciosos de pessoas que acham que a independência foi uma decisão errada, tendo em conta o rumo que o país tomou depois disso.

Felizmente os meus pais tiveram uma papel activo na independência e sempre tive em casa referências desse período, cehio de desafios e perigos e numa altura em que eles eram mais jovens do que eu e foi nas mãos deles e de outros que os destinos do país foram confiados. Sinto-me orgulhosa por ser filha de quem sou...

Aqui em Londres, só me restou ir a uma festa de comemoração da data que foi muito boa por sinal(angolano adora festa, ne?).

Jinhos,
Ana.

AGRIDOCE disse...

ANA-CATARINA,

Na minha perspectiva, nada de errado houve com a indepêndencia do território. Penso que já tive a oportunidade de te dizer que ela estava agendada de há muito, embora "sine die". E até por muitos daqueles que não tiveram oportunidade de a festejar, mesmo desejando-a.

A falência do regime político em Portugal, com mais uns quantos acontecimentos e interesses à volta, fizeram com que as datas das independências de Angola e das demais colónias se precipitassem. E foi essa precipitação que, com todo o processo de transferências de poderes sem se saber muito bem onde ele estava, a meu ver, fez e faz com que muitos juízos negativos ainda se produzam a propósito do facto. Pela forma como as coisas aconteceram e pelas consequências desnecessariamente tão negativas para tanta gente e para o próprio país (claro que estou no domínio do subjectivo, da especulação. Quem poderá garantir que seria melhor, ou que não seria pior, se as coisas se passassem de forma diferente? Ninguém consegue reproduzir uma realidade que não foi. Mas a lógica diz que muito diferente para melhor se poderia preparar a festa).

E também acho que deves estar orgulhosa dos teus pais e de quem defendeu a integridade do território, tal como foi legado pela potência colonizadora de então, Portugal. Penso que seria mais a isto que te referias, isto é, ao período que se seguiu à independência e em que lavrou a guerra civil por 3 décadas, ou não, estavas a referir-te à década que a antecedeu?

Quanto a memórias... o tempo tudo trata. A quem não esteve envolvido por não existir ainda, ou não ter ainda consciência da realidade, nem de tempo precisa. Já o mesmo não se pode dizer dos outros que, por isto ou por aquilo, se colocarão em campos diferentes, muitas vezes opostos e em rota de colisão. Mas essas gerações (no plural, porque foram no plural) estão quase a desaparecer. Poucos ficarão com memória , enquanto o mundo continuará a girar.

Beijinhos.